A ciência como uma vela no escuro (Carl Sagan)

Nos séculos 18 e 19, as mentes de brilhantes pessoas transformaram o mundo que conhecemos. O mundo saia do antropocentrismo e misticismo para iniciar uma nova era baseada no método científico. O antropocentrismo recebeu três derradeiros golpes, o primeiro dado por Newton (que provou que não estamos no centro do universo), o segundo dado por Darwin (que provou que não somo criados por Deus e que somos como qualquer outro animal) e o último dado por Freud (que desmascarou nosso egocentrismo). Mesmo assim, muitos humanos preferem negar a ciência, os fatos e o método científico, para se agarrar ao misticismo, pseudociência e a fé religiosa. Este blog tem como objetivo, divulgar a ciência, falar sobre ateísmo e religião e instigar o senso crítico. Aqui a ciência será colocada como uma vela que foi acesa com o objetivo de afastar a escuridão.

terça-feira, 26 de março de 2013

Armadilhas do ensino de Evolução


A teoria da origem das espécies pela seleção natural, aquilo que chamamos de evolução, é muito simples. Tão simples que não é preciso ser biólogo, cientista ou mesmo alfabetizado para entende-la. Mas ainda assim, uma grande parcela das pessoas não conseguem entender esta teoria tão simples. E diversas pesquisas mostram que, a maioria das pessoas que não aceitam a teoria da evolução (como uma explicação para a origem das espécies) na verdade não entendem a base da teoria.

Ou seja, o problema não está nas evidências, nem na complexidade da teoria, está na forma como ensinamos evolução.

Para ensinar evolução, ou para debater sobre evolução, é necessário não apenas conhecimento do processo evolutivo, mas também como empregar corretamente os termos em uso, como evitar frases confusas e como não deixar uma impressão errada.

Os argumentos mais comuns de quem não aceita a Teoria da Evolução são: 1) “Como o nome diz, é apenas uma teoria.”; 2) “Você acredita da evolução e acreditar é baseado em fé.”; 3) “Você quer que eu acredite que os seres humanos surgiram por acaso?”; e 4) “Onde estão os elos perdidos que nos ligam aos macacos?”

Abaixo vou falar um pouco de cada um destes problemas, que não são os únicos problemas no ensino de evolução, mas vai bastar por hora.

Teoria x Hipótese

Dificilmente alguém sabe a diferença entre uma teoria e uma hipótese. O senso comum nos diz que são as mesmas coisas. E isso atrapalha bastante, pois passa a idéia de que uma teoria é apenas uma “opinião pessoal”. Mas não é. 

Uma teoria é uma explicação. A validade de uma teoria se baseia na sua habilidade de explicar o fenômeno. Teorias podem ser apoiadas, refutadas ou modificadas com base em novas evidências. A Teoria da Gravidade, por exemplo, tenta explicar a natureza da gravidade. A Teoria Celular explica o funcionamento da célula. A Teoria evolutiva explica a história da vida na Terra. A Teoria evolutiva é suportada por um incontável número de evidências, que vão desde nosso DNA (e o DNA de todos os seres vivos); passando pela vida celular e por todos os seres vivos na Terra; até o registro fóssil (que você pode ver em diversos museus). Desde que a Teoria da evolução foi criada no fim do século 19, algumas evidências surgiram para que nós a modificássemos um pouco (ajustássemos alguns pontos), mas até hoje não surgiu uma única evidência de que a Teoria da evolução está incorreta. Que evidência acabaria com a teoria da evolução? Muitas. Por exemplo, se alguém encontrasse um único fóssil de coelho junto com o fóssil de algum dinossauro! Mas nunca encontramos tal coisa.

E o que é uma hipótese então? Uma hipótese é uma ideia testável. Cientistas não tentam “provar” hipóteses, mas sim testá-las. Geralmente múltiplas hipóteses são propostas para explicar fenômenos e o objetivo da pesquisa é eliminar as incorretas. Hipóteses vêm e vão aos montes, mas teorias geralmente permanecem para serem testadas e modificadas por décadas ou séculos. Em ciência, teorias nunca são suposições ou palpites e descrever evolução como “só uma teoria” é impróprio.

Acreditar ou Aceitar

“Você acredita na evolução?” é uma pergunta geralmente feita para professores de biologia pelos seus confusos alunos. A resposta é “Não, eu aceito o fato de que a Terra é muito antiga e que a vida tem mudado ao longo de bilhões de anos porque isso é o que as evidências nos dizem”. Ciência não se trata de crenças – mas sim de fazer inferências baseadas em evidências.

Aleatoriedade e evolução

Mutações, que criam a variação, acontecem por acaso. Mas a seleção destes variantes não. Ou seja, a variação é aleatória, seleção normalmente não é. A seleção de traços favoráveis dentro de uma população ocorre quando os seres vivos superam todos os desafios apresentados a eles. Essas pressões não são aleatórias, mas determinadas por leis físicas. Excetuando-se a árvore que, por azar, cai em um organismo ou o vulcão que devasta uma população, seleção não é aleatória e evolução não acontece por acaso.

Elos perdidos

É fato que o registro fóssil é incompleto. Nem todos os seres vivos ou toda espécie foi contida em registros fósseis, muito menos descoberta para análise. A teoria da evolução está preocupada em enxergar os padrões e entender formas transicionais não em fazer um estudo genealógico de todos os seres vivos. Portanto, o termo “elo perdido” não tem sentido quando se trata de entender a história da vida.

Para entender melhor, imagine um indivíduo com olhos puxados. Mesmo sem saber quem são os pais dele, você pode dizer, com um elevado grau de certeza, que este indivíduo possui descendência asiática. Você pode afirmar, com certa confiança, que algum ancestral dele nasceu e viveu em algum lugar da Ásia. Se você fosse especialista em anatomia de asiáticos, você até poderia dizer se o ancestral dele viveu na China, no Japão, no sudeste asiático, etc... Ou seja, você não precisa do pai, do avô, do bisavô e, por fim, seguir toda a genealogia do indivíduo para fazer estas afirmações. Com alguns dados e por comparação, você pode fazer inferências sobre a ancestralidade de um indivíduo.

Bom. Este texto foi retirado e adaptado do Entendendo aEvolução. É um programa interativo excelente e recomendo a todos!

Abraços

Um comentário:

  1. ótimo texto...a população precisa entender não só "A", como "AS" teorias evolutivas...A darwinista já tem mais de 150 anos e ainda assim provoca muitas dúvidas, muito por culpa de nós mesmos que não os ensinamos corretamente...ou será que nós mesmos não a entendemos?

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