Em um post anterior, que você pode ler aqui, comecei a escrever sobre a história evolutiva das baleias. Hoje dou prosseguimento ao assunto, fechando o artigo publicado em Understanding Evolution.
Comparado a outras das primeiras baleias, como o Indohyus e
Pakicetus, o Ambulocetos parece ter vivido uma vida mais aquática (veja figura abaixo). Suas pernas
são curtas, e suas mãos e pés são ampliados como remos. Sua cauda é mais longa
e mais musculosa também.
A hipótese de que o Ambulocetus viveu uma vida
aquática também é apoiada por evidências de estratigrafia - Ambulocetos fósseis
foram recuperados a partir de sedimentos que, provavelmente, foram formadas em
um antigo estuário. Os animais são o que comem e bebem, e água salgada e água
doce têm diferentes proporções de isótopos de oxigênio. Isto significa que
podemos aprender sobre que tipo de água um animal bebeu, estudando os isótopos
que foram incorporados em seus ossos e dentes à medida que crescia. Os isótopos
mostram que Ambulocetus provavelmente bebeu tanto água salgada quanto água
doce, o que se encaixa perfeitamente com a ideia de que esses animais viviam em
estuários ou baías entre rios de água doce e o mar aberto.
Baleias que evoluíram após Ambulocetus (Kutchicetus, etc)
mostram níveis ainda mais elevados de isótopos de oxigênio de água salgada, o
que indica que eles viviam em habitats marinhos costeiros e foram capazes de
beber água salgada como as baleias de hoje. As narinas destes animais evoluíram se posicionando mais e mais para trás ao longo do focinho. Esta tendência se manteve em baleias vivas, que têm uma "bolha" (narinas), localizada
na parte superior da cabeça acima dos olhos.
Estas baleias mais aquáticas mostram outras alterações que
também sugerem que elas estão intimamente relacionadas com as baleias de hoje.
Por exemplo, a pélvis tinha evoluído para ser reduzida em tamanho e separada da
coluna vertebral. Isso pode refletir o aumento do uso de toda a coluna
vertebral, incluindo a parte de trás e da cauda, na locomoção. Se você
assistir a filmes de golfinhos e baleias nadando, você vai perceber que as suas
nadadeiras traseiras não são verticais como os de peixes, mas horizontais. Para
nadar, eles movem suas caudas para cima e para baixo, em vez de para um lado e
para a o outro como os peixes fazem. Isto é porque as baleias evoluíram a
partir do caminhar dos mamíferos terrestres cujas colunas não dobram
naturalmente para um lado e para o outro, mas para cima e para baixo. Você pode
facilmente ver isso se você assistir a uma corrida de cachorro. Sua coluna
vertebral ondula para cima e para baixo em ondas conforme ele se move para
frente. Baleias fazem a mesma coisa quando elas nadam, mostrando a sua herança
ancestral terrestre.
Como as baleias começaram a nadar ondulando todo o corpo,
outras mudanças no esqueleto permitiram que seus membros fossem utilizados mais
para dar direção do que para remar. Como as vertebras caudais destas primeiras
baleias correspondem com as vertebras caudais de golfinhos e baleias atuais,
sugere-se que a nadadeira caudal surgiu bem cedo, e as primeiras baleias, como
o Dorudon e Basilosaurus, já possuíam nadadeiras caudais. Tais mudanças
esqueléticas, que podem acomodar um estilo de vida aquático, são especialmente
pronunciadas em basilosaurideos, como Dorudon. Estas baleias antigas evoluiram
mais de 40 milhões de anos atrás. Articulações dos cotovelos se modificaram
permitindo que as patas dianteiras funcionassem como nadadeiras, controlando o
fluxo de água e a direção do movimento. Já os membros posteriores desses
animais eram quase inexistentes. Eles eram tão pequenos que muitos cientistas
pensam que não possuía função e que os mesmos podem ter sido internos ao corpo,
como ocorre em algumas baleias modernas.
Este membro posterior vestigial é evidência de
herança terrestre dos basilosaurideos. Desde os ossos do ouvido até os ossos do
tornozelo, as baleias são um fantástico exemplo de evolução. E o mais legal, é que
todos os estágios intermediários podem
ser observados em outros animais que possuem uma vida
terrestre-aquática, como os hipopótamos, leões-marinhos, lontras e tantos
outros.
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