A teoria da origem das espécies pela seleção natural, aquilo
que chamamos de evolução, é muito simples. Tão simples que não é preciso ser
biólogo, cientista ou mesmo alfabetizado para entende-la. Mas ainda assim, uma
grande parcela das pessoas não conseguem entender esta teoria tão simples. E
diversas pesquisas mostram que, a maioria das pessoas que não aceitam a teoria
da evolução (como uma explicação para a origem das espécies) na verdade não
entendem a base da teoria.
Ou seja, o problema não está nas evidências, nem na
complexidade da teoria, está na forma como ensinamos evolução.
Para ensinar evolução, ou para debater sobre evolução, é
necessário não apenas conhecimento do processo evolutivo, mas também como
empregar corretamente os termos em uso, como evitar frases confusas e como não
deixar uma impressão errada.
Os argumentos mais comuns de quem não aceita a Teoria da
Evolução são: 1) “Como o nome diz, é apenas uma teoria.”; 2) “Você acredita
da evolução e acreditar é baseado em fé.”; 3) “Você quer que eu acredite
que os seres humanos surgiram por acaso?”; e 4) “Onde estão os elos
perdidos que nos ligam aos macacos?”
Abaixo vou falar um pouco de cada um destes problemas, que
não são os únicos problemas no ensino de evolução, mas vai bastar por hora.
Teoria x Hipótese
Dificilmente alguém sabe a diferença entre uma teoria e uma
hipótese. O senso comum nos diz que são as mesmas coisas. E isso atrapalha
bastante, pois passa a idéia de que uma teoria é apenas uma “opinião pessoal”.
Mas não é.
Uma teoria é uma explicação. A validade de uma teoria se
baseia na sua habilidade de explicar o fenômeno. Teorias podem ser apoiadas,
refutadas ou modificadas com base em novas evidências. A Teoria da Gravidade,
por exemplo, tenta explicar a natureza da gravidade. A Teoria Celular explica o
funcionamento da célula. A Teoria evolutiva explica a história da vida na
Terra. A Teoria evolutiva é suportada por um incontável número de evidências,
que vão desde nosso DNA (e o DNA de todos os seres vivos); passando pela vida
celular e por todos os seres vivos na Terra; até o registro fóssil (que você
pode ver em diversos museus). Desde que a Teoria da evolução foi criada no fim
do século 19, algumas evidências surgiram para que nós a modificássemos um
pouco (ajustássemos alguns pontos), mas até hoje não surgiu uma única evidência
de que a Teoria da evolução está incorreta. Que evidência acabaria com a teoria
da evolução? Muitas. Por exemplo, se alguém encontrasse um único fóssil de
coelho junto com o fóssil de algum dinossauro! Mas nunca encontramos tal coisa.
E o que é uma hipótese então? Uma hipótese é uma ideia
testável. Cientistas não tentam “provar” hipóteses, mas sim testá-las.
Geralmente múltiplas hipóteses são propostas para explicar fenômenos e o
objetivo da pesquisa é eliminar as incorretas. Hipóteses vêm e vão aos montes,
mas teorias geralmente permanecem para serem testadas e modificadas por décadas
ou séculos. Em ciência, teorias nunca são suposições ou palpites e descrever
evolução como “só uma teoria” é impróprio.
Acreditar ou Aceitar
“Você acredita na evolução?” é uma pergunta geralmente feita
para professores de biologia pelos seus confusos alunos. A resposta é “Não, eu
aceito o fato de que a Terra é muito antiga e que a vida tem mudado ao longo de
bilhões de anos porque isso é o que as evidências nos dizem”. Ciência não se
trata de crenças – mas sim de fazer inferências baseadas em evidências.
Aleatoriedade e
evolução
Mutações, que criam a variação, acontecem por acaso. Mas a
seleção destes variantes não. Ou seja, a variação é aleatória, seleção
normalmente não é. A seleção de traços favoráveis dentro de uma população
ocorre quando os seres vivos superam todos os desafios apresentados a eles.
Essas pressões não são aleatórias, mas determinadas por leis físicas.
Excetuando-se a árvore que, por azar, cai em um organismo ou o vulcão que
devasta uma população, seleção não é aleatória e evolução não acontece por
acaso.
Elos perdidos
É fato que o registro fóssil é incompleto. Nem todos os seres
vivos ou toda espécie foi contida em registros fósseis, muito menos descoberta
para análise. A teoria da evolução está preocupada em enxergar os padrões e
entender formas transicionais não em fazer um estudo genealógico de todos os
seres vivos. Portanto, o termo “elo perdido” não tem sentido quando se trata de
entender a história da vida.
Para entender melhor, imagine um indivíduo com olhos
puxados. Mesmo sem saber quem são os pais dele, você pode dizer, com um elevado
grau de certeza, que este indivíduo possui descendência asiática. Você pode
afirmar, com certa confiança, que algum ancestral dele nasceu e viveu em algum
lugar da Ásia. Se você fosse especialista em anatomia de asiáticos, você até
poderia dizer se o ancestral dele viveu na China, no Japão, no sudeste
asiático, etc... Ou seja, você não precisa do pai, do avô, do bisavô e, por
fim, seguir toda a genealogia do indivíduo para fazer estas afirmações. Com
alguns dados e por comparação, você pode fazer inferências sobre a
ancestralidade de um indivíduo.
Bom. Este texto foi retirado e adaptado do
Entendendo aEvolução. É um programa interativo excelente e recomendo a todos!
Abraços